141- Port Ellen 35 anos!!!

– Port Ellen –

Fundada “oficialmente” em 1825, como uma maltaria, abastecendo, principalmente, destilarias ilegais da ilha de Islay, foi batizada com o nome da cidade, “Port Ellen”, da ilha de onde surgiu o whisky na Escócia, levado por monges Irlandeses.

Em 1833 deu-se início a destilação em suas instalações, contando com dois pares de alambiques de cobre do tipo Pot Still.

As datas divergem, mas há indícios de que Port Ellen foi a primeira destilaria escocesa a usar o “spirit safe”. O cofre.  Aquele móvel que o destilador opera e no qual utiliza para garantir a qualidade do destilado, separando o ponto da destilação: cabeça-coração-rabo; Além de servir para fins fiscais, controlando a quantidade da produção.

Teria sido montado na destilaria em 1819 (antes da fundação oficial), por James Fox, que o patenteou como “Fox Distiller’s Economist”.

Esse é o da Bowmore.

Hoje esse móvel está presente em todas as destilarias escocesas.

Até 1892, sob direção de John Ransay, Port Ellen desenvolve-se de forma marcante, tendo seu proprietário se tornado um próspero comerciante, também importando vinhos Jerez (Espanha), Porto e vinho da Ilha da Madeira (Portugal), aproveitando os barris de transporte desses vinhos para maturar os whiskies da Port Ellen.

Nessa época também deu-se início a exportação de whisky para América e um serviço de balsas direto para Glasgow, para facilitar o escoamento da produção; Além do fornecimento de whisky de malte para clientes ilustres como James Buchanan e John Dewars & Sons, para fazer parte da fórmula de seus blends.

Após a morte de Ransay, seu principal diretor (em 1892), Port Ellen passou por momentos turbulentos, passando por diversos proprietários.

Em 1929, a “Lei seca americana” desestabiliza o mercado mundial de whisky, afetando as exportações e interrompendo a produção de Port Ellen.  No ano seguinte, nova venda, agora para a Distillers Company Limited (uma das empresas que devido à fusões e aquisições, deu origem à poderosa DIAGEO), que decretou o fechamentoda destilaria, permanecendo a maltaria em funcionamento.

De 1930 a 1967, os alambiques da Port Ellen permaneceram silenciados.

Em 1966 o mercado global de whisky aumenta muito a demanda!  Principalmente a demanda por whisky de malte turfado.

Port Ellen então passa por uma grande reforma, ganha mais um par de alambiques, volta a destilar em 1967 e dobra sua produção!

Em 1973 a maltaria é expandida e a produção de cevada maltada passa a ser feita em “tambores de maltagem”.

Na década de setenta e oitenta houve um efeito contrário na indústria do whisky escocês:  excesso de oferta de whisky de malte turfado.

A indústria do blended absorvia uma pequena parcela e engarrafamentos de maltes não eram tão populares como são hoje.  E os whiskies turfados, menos populares ainda!

A Diageo viu-se na necessidade de fechar uma de suas três destilarias de Islay: Caol Ila, Lagavulin ou Port Ellen.

Pelo tamanho da produção, não foi uma escolha difícil.

Atente-se ao fato que, naquela época, Port Ellen era apenas mais uma destilaria de malte turfado na Escócia!

Se produzia um whisky de malte muito bem feito tendo como foco a turfa de Islay, um bom destilado e barris de reúso à disposição.

Algo como acontece com a Lagavulin hoje (apenas à título de comparação com a qualidade do whisky).

Em maio de 1983, Port Ellen foi definitivamente silenciada e seus alambiques, foram totalmente desmontados e removidos (há boatos que foram vendidos para alguma empresa da Índia), juntamente com todos os equipamentos de produção.

A estrutura predial continua de pé.  A maltaria continua funcionando.  Aliás, a maltaria nunca parou.

E hoje?

Bom, não é segredo que a Diageo anunciou em 2017 os planos para a reabertura de Port Ellen.

A gigante do ramo de bebidas prometeu uma reconstrução, o mais fiel possível à antiga destilaria.

Para isso, grandes obras estão sendo feitas no local, sob a supervisão de seus antigos funcionários.

Mas uma coisa o amigo leitor pode ter certeza:

Port Ellen nunca mais será Port Ellen!

Uma destilaria não pode ser replicada.

Que seja um tipo de fermento ou cevada que não se usa mais, ou a espessura do cobre do alambique usado ou até o gosto adquirido pelo tempo nos tanques de fermentação de madeira…

Port Ellen nunca mais será Port Ellen!

E mesmo que esteja lá escrito no rótulo e que (tomara), seja um grande whisky! O que resta do espírito de Port Ellen descansa (ou é bebido pelos anjos), em vários armazéns de envelhecimento espalhados pela Escócia, de propriedade da Diageo, ou das muitas engarrafadoras independentes que adquiriram o raro e cada vez mais escasso malte de Islay.

Port Ellen não nasceu para ser raro.

Foi se tornando raro ao longo do tempo e vai ficando cada vez mais raro e mais caro!

Em Glasgow, visitamos o talvez mais famoso bar de whisky da cidade, “The Bon Accord”, local espetacular! Com uma carta de whisky de aproximadamente 500 rótulos diferentes!!!

Além de muita cerveja, vinhos, outros destilados e comida escocesa.

Apesar de raro, nas grandes cidades escocesas ainda não é difícil achar vários rótulos disponíveis de Port Ellen.

Além de engarrafamentos oficiais, existem muitos, (muitos mesmo!), engarrafamentos independentes!

Empresas que compraram barris de Port Ellen, cheios de whisky, e esperaram o momento que lhes pareceu o mais correto para engarrafar.

Dependendo do contrato, o nome ou a idade do whisky vai ou não, declarado no rótulo.

E neste pub, um rótulo de Port Ellen nos chamou atenção.

Foi engarrafado pela Hunter Laing & Company.

Uma engarrafadora independente fundada em 1949 e que desde esta data, estabelecida em Glasgow, vem misturando e engarrafando whiskies de toda parte da Escócia!  Estando, o grupo, desde 2018, alçando novos voos, com o enchimento de seu primeiro barril, agora como donos de uma destilaria: 

A Ardnahoe!

Em Islay!!!

A Ardnahoe ainda não lançou nenhum rótulo.  Mas isso agora já é possível!  Já alcançaram o prazo mínimo. A qualquer momento teremos novidades.

Vemos que seus donos possuem forte ligação com Islay!

E sobre nosso rótulo degustado:

Oleoso!

Um single cask, cask strength!!!

Um Port Ellen, vindo de um único barril, sem qualquer diluição.

Sem corante.  Sem filtragem à frio.

35 anos de envelhecimento em um bom barril tipo “Butt”, ex Jerez, de reúso.

Possui 56,5% ABV.

Dourado e límpido na taça.

Aroma com fumaça leve, mentolado, malte e um cítrico lembrando frutas vermelhas suaves.

É delicado e agradável. Fresco, apesar da idade.

Lágrimas estreitas escorrem pelo bojo da taça, lentamente.  Forma-se coroa que adere no copo, sem escorrer.

Corpo médio para encorpado, frutado, bem apimentado, malte equilibrado e leve amadeirado.

Doce, mas não muito.

Retrogosto primeiramente apimentado, surgindo em seguida notas enfumaçadas, salgadas e bem cítricas (um pouquinho adstringente), que perduram por um longo tempo na boca.

Com a taça esvaziada, persiste a fumaça cítrica, maior percepção do amadeirado.

Grande whisky!  Apenas 231 garrafas lançadas.

Destilado em setembro de 1978.  Engarrafado em outubro de 2013.

E para finalizar…

Há poucos dias do falecimento da rainha Elizabeth II, deixamos aqui nossas homenagens à essa grande mulher!

Tim tim!

 E a título de curiosidade, em 1980, “Lilibeth” visitou a destilaria em Islay, sendo presenteada (ela e sua comitiva), com garrafas de Port Ellen 12 anos, numa época em que não mais se envasava whisky na destilaria.  Tanto que tiveram que buscar garrafas vazias na destilaria Oban, para que se pudesse efetivar o presente.

Que Port Ellen se inspire em sua monarca falecida!

Por ambas possuírem uma rica história.  Por ambas possuírem personalidades marcantes!

  São atributos que envolvem Port Ellen numa áurea mística de devoção, que aliado a um marketing já consagrado de se “provar o que não se fabrica mais”, traduzem em sucesso qualquer iniciativa que envolva o nome da destilaria. 

Que seja pela raridade dos maltes da antiga Port Ellen, ou pelo mistério que envolve os novos whiskies da nova Port Ellen, os próximos anos serão divertidos em Islay!

Saúde!!!

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