102. Port Charlotte (Bruichladdich) – Islay Barley 2011 !!!

Whisky escocês de malte único, da ilha de Islay.

50% de teor alcoólico. Sem corante, sem filtragem gelada.

É comum as destilarias escocesas comprarem cevada de toda Grã Bretanha e até de outros países.  É muito mais comum destilarias de Islay comprarem cevada fora da ilha.  Mas no caso deste whisky, a cevada foi plantada em Islay, mesmo com toda adversidade do clima daquela região escocesa.

A Bruichladdich acredita que a cevada é a essência do whisky.  Mais do que isso, ela está intimamente ligada a um conceito que gera intermináveis discussões.  Muitas regadas à whisky:  “terroir”!

Não, amigo leitor.  Não vamos filosofar sobre “terroir”.  Um conceito que leva em consideração, por exemplo, clima, geografia, topologia, turfa, nutrientes do solo, tradição, tipo de cevada e por aí vai…

O assunto é polêmico porque hoje, as destilarias estão cada vez mais polivalentes, fazendo vários tipos de whiskies diferentes em suas instalações.  O próprio conceito de regiões escocesas está perdendo, dia após dia, seu significado.   Seja na fabricação de maltes não turfados em Islay ou maltes leves nas Highlands, o whisky escocês vem se transformando.  Não que seja uma coisa ruim!  Mas na contramão desse movimento, a Bruichladdich tenta dar identidade própria ao seu whisky.  Não ao nível de sabor.  Ela produz whiskies turfados e não turfados.  Mas ao nível de ligação com a terra.  Ligação com matérias primas da própria região. 

E de acordo com essa mentalidade, nada mais justo que um whisky produzido em Islay, tenha cevada também plantada e colhida em Islay.

Pensando nisso, a destilaria fez acordos com agricultores locais para comprar toda produção.  Hoje já existe aproximadamente, vinte “fazendas de cevada”, produzindo cevada em Islay, para os whiskies da Bruichladdich.

Jogada de marketing? Talvez. Mas que atenta nossa curiosidade, atenta!  E fomos conferir…

Tivemos a honra de degustar o primeiro! 

Sim, esse foi o primeiro whisky engarrafado em Islay, produzido exclusivamente com cevada de Islay.  Claro, numa escala comercial, haja vista que antigamente os fazendeiros produziam whiskies com cevada própria em Islay, para consumo próprio ou regional.

Com a invenção do destilador tipo “Coffei” (destiladores de coluna de uso contínuo), em 1830, surgiram os blendeds whiskies e toda produção de whisky em Islay (por mais de cem anos), era vendida exclusivamente para misturadores e engarrafadores. 

Visando produtividade, essas destilarias compravam cevada de várias outras partes, além de Islay, e destilavam.  Não havia naquela época, nenhum sentimento de identidade.   Sentimento de vincular a personalidade da destilaria ao whisky.  A produção era simplória.  A produção, quase padronizada de se fazer blendeds, era o objetivo.

Somente na década de sessenta, do século passado, as destilarias se conscientizaram que cada destilaria possui uma personalidade diferente, única!  E puxados pela Glenfiddich, começaram a engarrafar seus maltes.  Seus “single malts”.

A indústria do blend não arrefeceu.  Paralelamente a ela, destilarias cresceram no gosto popular por produzirem whiskies cujas características identificam sua procedência.

Os “single malts” veem alcançando cada vez mais admiradores mundo a fora!   Várias destilarias, vários campos de aromas e sabores diferentes.  Cada dia mais sabores lançados no mercado!  Para nós, degustadores, estamos vivendo a melhor fase do whisky mundial!

 Pena a economia brasileira não ajudar e o valor de nossa moeda ser tão insignificante a nível mundial, reduzindo, e muito, o poder de compra dos brasileiros.

Mas vamos falar de coisas boas!!

Vamos falar sobre esse whisky degustado hoje.  Whisky cuja cevada provém de Islay:

Em sua fabricação a destilaria usou dois tipos de cevada: Oxbridge e Publicana.

Um outro ponto controverso e sem resposta certa. 

A Bruichladdich e algumas outras destilarias escocesas, afirmam que o tipo de cevada usada na fabricação modifica o perfil sensorial da bebida.

É um tema interessante, embora ainda não seja unanimidade na indústria do whisky.

Nosso whisky foi destilado em 2004 e engarrafado em 2011.  Seis anos completos de maturação (como não atingiu sete anos, descartam-se os meses restantes).

Em sua maturação, setenta e cinco porcento do liquido foi posto em barris ex Bourbon de primeiro uso.

Os outros vinte e cinco porcento foram postos em barris ex vinho Syrah e ex vinho “Figero”, barris estes de duzentos e cinquenta litros e de segundo enchimento com whisky. 

Figero”, ou “Figaro”, é um vinho espanhol produzido pela “Bodega Nino Jesus” (A uva principal do corte (ou blend), é a Garnacha). Os dois tipos de vinho possuem características semelhantes: apimentado e condimentado.

O fato de ser um percentual baixo e ainda serem de segundo enchimento, não causou muita influência vínica ao destilado.

Seu ppm (partes por milhão), é de quarenta.  Vale dizer, não é muito comparado a seus irmãos da linha “Octomore” (alguns já passaram a marca de 200 ppm!), embora seja um nível respeitável e que cause certo impacto.  O número não quer dizer literalmente intensidade na sensação de fumaça.  São várias variáveis. 

Muitos outros fatores no processo de produção influenciam.  Portanto, não se apeguem ao número do ppm.

Você pode entender um pouquinho mais sobre turfa nesse nosso artigo (aqui).

E aí vai mais uma curiosidade: toda cevada da Bruichladdich (na data de hoje), é seca no norte da Escócia, usando turfa de lá! Ou seja, nos whiskies turfados da Bruichladdich não se usa turfa de Islay! Curioso, não?!

É um whisky bastante oleoso, viscoso.  Lágrimas estreitas escorrem rapidamente pela taça.  Possui cor amarelo palha, um pouco turvo.

Aroma bastante floral e frutado.  Um frutado cítrico que remete à abacaxi.  Cheiro de grãos de cevada e alcatrão.  A fumaça de turfa também é muito presente.   E sente-se maresia!  Pensem num cheiro de fogueira queimando na beira da praia!

Na boca é encorpado!  Os 50% de teor alcoólico lhe dão muita personalidade.  Destilado pesado, com muita fumaça.  Fumaça seca.

Pimenta, abacaxi, pêssego, amargor, cereal, muita sensação de fumaça!  É desequilibrado!

  Mostra ser jovem. 

O final é muito longo!

Apimentado amargo (lembra tabaco), adstringente e enfumaçado.  A boca seca e a saliva volta com gosto do whisky.

Uma verdadeira bomba de fumaça apimentada!

Valeu a experiência!  Valeu pela curiosidade!  Valeu por ser de Islay, a terra encantada do whisky turfado!

Saúde!

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