Whisky brasileiro, puro malte, produzido pela Destilaria Lamas, de Matozinhos/MG, bem pertinho de Belo Horizonte.
Não passou por filtragem à frio. Não lhe foi adicionado corante.
É um whisky “double wood”, amadurecido em dois tipos de barril de madeiras diferentes.
Sua base é o whisky “Plenus”, da Lamas. Um whisky envelhecido exclusivamente em barris ex Bourbon, seja de primeiro uso ou mesclados com barris refis (varia o lote), com uma maturação de aproximadamente cinco anos.
Após essa primeira maturação, o whisky é retirado e colocado em barris virgens, de duzentos litros, com torra alta, feitos com uma madeira brasileira: a “Putumuju”!
A finalização nessa nova barrica deu-se por aproximadamente um ano.
“Putumuju” é uma árvore nativa da Mata Atlântica.
É também conhecida como “Araryba” ou “Araribá”, que em tupi-guarani significa “Árvore da Arara” (a arte do rótulo e estojo é uma homenagem a seu nome).
A dica dessa finalização inovadora à Destilaria Lamas e disponibilidade das barricas, foi de Cecília Helena, “A louca da cachaça”, muito conhecida no meio dos destilados brasileiros!
( https://www.youtube.com/@aloucadacachaca2651/featured), e (https://www.instagram.com/aloucadacachaca/).
Em nossa degustação, percebemos um aroma de caramelo amadeirado com um toque rançoso bastante interessante! Esse aroma é fruto da inusitada finalização em Putumuju.
Notamos também uma leve percepção alcoólica. Além de aromas herbais bem típicas do destilado da Lamas.
Quanto mais tempo o whisky permanecer na taça e evaporar-se o álcool, mais caramelo rançoso será perceptível.
Na boca possui corpo médio/encorpado, com muita picância e forte presença do caramelo amadeirado e rançoso. Lembra damascos secos e tâmaras desidratadas. Sente-se também um adocicado cítrico e uma nota de resina, mostrando forte presença da finalização em barris virgens de Putumuju.
Retrogosto de média duração, cítrico adocicado, com leve adstringência (taninos da madeira), e leve enfumaçado refrescante (advém da forte torra interna desses barris virgens).
Com a taça esvaziada, caramelo rançoso (não diga!), e a persistente nota de resina.
Uma curiosidade é que em nossa visita à Destilaria Lamas (dezembro/2021), tivemos a honra de degustar esse whisky, ainda experimental, em sua versão Cask Strenght, extremamente aromático, com seus poderosos 58% ABV!!!
Foi uma experiência muito agradável e podemos atestar que a versão diluída, além de mais suave ao paladar, manteve suas principais características para deleite de nós entusiastas.
Talvez um pouquinho mais de maturação lhe faria bem para deixa-lo um pouco mais macio, mas o resultado desse engarrafamento é muito positivo!
Temos um whisky nacional complexo, com camadas de aromas e sabores que faz valer as benesses de termos uma legislação brasileira, relativa à whisky, que permite às destilarias fazer experiências com madeiras diferentes ao tradicional Carvalho e comercializar as bem sucedidas. Como o Lamas Putumuju!!!
Uma última curiosidade é que, na Escócia, não é permitido comercializar whisky produzido por lá que não seja envelhecido exclusivamente em madeira de Carvalho. Mas não se enganem. Experiências em outros tipos de madeira é bem comum em diversas destilarias por lá e caso a legislação escocesa mude de uma hora pra outra, não demoraria a aparecer no mercado, dezenas de whiskies escoceses envelhecidos ou finalizados em muitos tipos diferentes de madeira.
Torcemos para um dia isso ser possível.
Enquanto isso não acontece, sirva uma dose e aproveite essa finalização em madeira Putumuju. Whisky brasileiro! Para nosso orgulho.
Saúde!!!
2 comentários
Belo artigo, estou com o meu aqui guardado e mais ansioso para degustar, depois da sua avaliação. Saúde!
Autor
Cada país com sua própria liberdade e legislação.
Viva a diversidade!
Quem não está aberto ao novo e não compreende, apenas critica.
Mas independente das críticas, novas madeiras para envelhecimento e/ou finalização vieram pra ficar e agregam novos aromas e sabores à nossa bebida favorita!