Whisky de malte brasileiro, pela Destilaria Lamas, em Minas Gerais.
Possui 46% ABV, não passou por filtragem à frio e não lhe foi adicionado corante caramelo.
Sexto whisky da Destilaria Lamas produzido em parceria com Maurício Porto, cofundador do Blog “O cão engarrafado” e do espaço temático “Caledonia Whisky e CO”, em São Paulo.
Nós já tivemos o prazer de degustar e escrever sobre todas essas parcerias.
O nome “the dog’s bollocks”, como explicado em review anterior, trata-se de uma expressão inglesa, a qual podemos traduzir como: “algo muito bom”; ou bem ao popular: “do caralho” !!!
Todos os whiskies elaborados por essa parceria Lamas x Maurício Porto, focam na complexidade do produto final. E para chegar a isso, diferentes finalizações, usando barricas “temperadas” não usuais e até mesmo exóticas, foram empregadas nesses whiskies para se obter aromas e sabores bastante distintos, às vezes inimagináveis no início do processo produtivo.
Para o The Dog’s Bollocks III, foram usados 70% de cevada maltada turfada (já vem turfada da Grã-Bretanha, provavelmente também à 50 PPM, como o whisky anterior), e 30% de cevada maltada comum (double barley).
Em sua maturação/finalização, forma usados três diferentes tipos de Barril: Carvalho Americano Ex Bourbon, Carvalho Europeu Ex Vinho Licoroso (leia-se vinho do Porto/Portugal), e Carvalho Americano Ex Bourbon que foi preenchido (temperado por 5 meses), com Icewine Canadense (literalmente, várias garrafas esvaziadas dentro do Barril).
Mas o que seria um “Icewine” ou “Vinho do Gelo”?
É um tipo de vinho de sobremesa cuja produção é um pouco arriscada, pois as uvas não devem ser afetadas por “Botrytis Cinerea”, elas precisão estar totalmente saudáveis. É produzido a partir de uvas que foram congeladas enquanto ainda estão na Videira. Somente produzido em países com invernos rigorosos, necessita-se de muita habilidade do produtor, o congelamento, natural, deve coincidir com a maturação completa da uva.
Esse congelamento implica na desidratação das uvas maduras, o que aumenta a concentração de açúcares.
O resultado: um vinho doce, fresco e com acidez diferenciada.
Um vinho caro e raro. Difícil achar em nosso país.
É muito comum encontrar por aí os IceDwines (feitos a partir de uvas congeladas artificialmente pelo homem na tentativa de replicar esse processo único.
Explicado os conceitos, a Lamas preencheu esses Barris temperados com Icewine, com whisky turfado anteriormente envelhecido em ex Bourbon. E deixou ali por algum período não explicitado pela Destilaria.
Daqui retirou 70% da mistura que deste whisky.
Os demais 30% do líquido foram preenchidos com malte tradicional, anteriormente finalizado em Barris ex vinho do Porto, já tradicional nessa parceria Lamas x Porto.
Complexidade no processo produtivo. Complexidade no whisky?
Como dito acima, esse é o objetivo.
Em nossa degustação, verificamos uma cor dourada/acobreada brilhante.
Lágrimas finas escorrem pouco espaçadas e lentamente pelo bojo da taça. É possível perceber que muito do whisky gruda e não cai, ficando um visual muito bonito na taça!
O aroma é a parte mais complexa!
Apesar de possuir percepção alcoólica, é muito alta a gama de nuances encontradas.
Muito frutado! Fresco. Impossível não notar sua refrescância!
Tangerina, ameixa branca, bala de laranja. O cítrico é muito presente. Sente-se também notas comuns ao destilado da Lamas como ervas (Canela, Chá Verde e Sálvia), Mel e Incenso.
Talvez nessa “refrescância” esteja o diferencial trazido pelo Icewine. Sinceramente, tal produto nunca foi apresentado a este degustador. Podemos apenas especular.
Na boca o whisky possui consistência rala para média.
Apimentado, frutado (laranja madura, uva branca madura).
Agora sim, o enfumaçado surge! Gostoso. Herbal. Fresco. Doce.
Acidez controlada. Entendo o “Própolis”.
Retrogosto frutado e enfumaçado, de excelente duração. O whisky realmente fica na boca!
Com a taça esvaziada, laranja, fumaça e mel.
Em matéria de complexidade, o resultado final foi alcançado com sucesso. É nítido ainda se tratar de um whisky jovem, dado a percepção alcoólica ainda evidente. Recomenda-se deixar a tacinha descansar por alguns minutos para uma degustação mais satisfatória.
E, claro, queremos saber sempre o tempo de envelhecimento. Tentamos. Não obtivemos resposta da Lamas.
No mais, um ótimo trabalho, mais uma vez, dessa parceria de sucesso, gerando whiskies complexos de pouca produção.
E que venham mais whiskies de qualidade!
Nós agradecemos.
Saúde!!!
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