– Whiskey Irlandês – História, Drama e Ressurreição!!! Parte 01 –

Parte 01

Você, entusiasta de whisky, sabia que deve um agradecimento especial à Irlanda pelo whisky que tens hoje na taça hoje?!?

Pois é!

Existem algumas teorias para tentar explicar como o conhecimento da arte da destilação tenha chegado aos mosteiros Irlandeses.

Mas por que mosteiros Irlandeses???

Naquela época (idade média e idade moderna), mosteiros eram os locais onde se abrigavam conhecimentos! 

Colocamos aqui o que achamos mais lógico diante do desencontro de informações entre autores mundo afora e demos nosso toque pessoal.

Na Península Ibérica, onde estão localizados hoje os países Portugal e Espanha, entre os sécs. VIII e XIV, houve uma ocupação dos Mouros ou Muçulmanos.

No séc. XI a Europa começou a se organizar para expulsá-los.

Efetivamente, o séc. XII é marcado pelas Guerras de Reconquista, com os cristãos avançando e tomando de volta regiões importantes, cercando os Mouros e os encurralando do norte em direção ao sul da Península e do leste em direção ao oeste.

Esses soldados cristãos vinham de todas as partes da Europa, inclusive da Irlanda.  À medida que os Muçulmanos recuavam dos territórios do que é hoje Portugal e principalmente de onde é hoje a Espanha, deixavam para trás seus pertences que não eram possíveis de carregar com a pressa da fuga.

Assim os Europeus tomaram posse dos alambiques árabes.  E se enganam quem pensa que era uma novidade! Havia comércio!

Os árabes comercializavam com os europeus e estes já sabiam, embora não produzissem, como eram feitos os perfumes árabes!

Destilavam também remédios, supostamente para aumentar a expectativa de vida ou mesmo para curar doenças.  Fermentavam bebidas à base de frutas, ervas e mel e destilavam!  As chamavam, em bom latim de “eau de vie”, ou para nós: água da vida!

Sempre para fins medicinais.  Claro!

Quis o destino que soldados ou monges Irlandeses que lutaram ou davam conforto espiritual na guerra, voltaram a seu país de origem e trouxeram consigo alguns alambiques árabes, rudimentares, mas totalmente funcionais. 

O feito desses irlandeses é importante para nós mas a prática foi repetida nos quatro cantos da Europa.

Não é uma exclusividade do whisky ou whiskey. 

Da divulgação do Alambique, surgiram inúmeras bebidas destiladas pelo mundo.

No caso dos Irlandeses, começaram a seguir a receita aprendida em terras Ibéricas, destilavam ervas, como o hortelã, tomilho, anis, etc.

Com o passar do tempo, começaram a destilar o que tinham em abundância: cevada!

Era o séc. XII.

Os Irlandeses aperfeiçoaram o alambique e inventaram o whisky!!!

E o batizaram com o nome que aprenderam dos árabes com seu “elixir de longa vida”… De seu “eau de vie”, de seu “Aqua Vitae”, de seu “uisce beatha”, em Gaélico Irlandês, a língua antiga da Irlanda.

Eu sei eles escrevem “whiskey”, mas eu prefiro “whisky” e acabaria com meu momento dramático aí em cima!

Por falar nisso, por que a diferenciação?

Uisce ( ou fuisce), beatha; do Irlandês antigo (Gaélico Irlandês).  O equivalente ao uisge beatha, do Gaélico escocês.  Ambos significando:  Água da vida!

Embora Irlanda e Escócia não façam fronteira terrestre, são países bem próximos!

O mesmo povo Celta, com pequenas diferenciações de linguagens.

Pensem no português do Brasil com o português de Portugal.

Mesma língua com pequenas diferenças.

É só olhar no rótulo e saber se você está de frente de um whisky escocês ou de um whiskey irlandês.

Nesse ponto é bem legal!  Ajuda no marketing!!!

Sim, existe prova escrita que os Irlandeses faziam whiskey muito antes dos escoceses.

Os “Manuscritos de Clonmacnoise” (ou “Os Anais de Clonmacnoise”!!!), datados de 1405, alertam para os desavisados, que um tal de Richard MaGranell, provavelmente um líder de um clã chamado  “Moyntyreolas”, morreu no Natal tomando Aqua Vitae em excesso!!!

Nós contamos (aqui!), como o whiskey chegou na Escócia, por Islay.

No séc. XVI, o Rei Henrique VIII, Rei de toda a Grã Bretanha (a Irlanda somente viria a ser independente em 1919!), rompeu com a Igreja Católica e tomou para si todos seus bens no território do Reino Unido.  Mais ainda, se autoproclamou líder da nova igreja que ficaria no lugar: a Igreja Anglicana (expressão medieval que significa “inglesa”).

Um de seus primeiros atos foi o fechamento dos mosteiros (1536).  Fazendo com que muitos monges se tornassem destiladores profissionais fora dos muros dos mosteiros.

Desse modo, o conhecimento sobre a destilação acabou se espalhando por pequenas propriedades rurais e várias comunidades.

O Whiskey começou a se popularizar e a cair no gosto dos Irlandeses.

Em 1608 a Coroa Britânica concedeu a primeira Licença Comercial a uma destilaria.  Foi para a Old Bushmills Distillery, em Antrim, hoje Irlanda do Norte.

Tornou-se não só a primeira destilaria licenciada da Grã Bretanha, mas do mundo!

A Bushmills produz whiskey até hoje!!!

Ela produz o incrível Black Bush!  Que nós provamos e aprovamos!  Talvez o melhor blended whiskey disponível no mercado!

Os anos de 1800 foram o auge da indústria do Whiskey Irlandês!

Havia quase 100 destilarias licenciadas na Irlanda, exportando whiskey para todo o mundo!!!

Belfast, Cork, Derry e principalmente, Dublin, foram os grandes centros de destilação da Irlanda.

E se por um lado havia esses grandes produtores, do outro, persistiam os pequenos produtores rurais.  Centenas deles!  Atendendo o comércio local. Produzindo whiskey ilícito, sem pagamento de impostos, o famoso “Poteen” (leia-se Poitín)!

“Whiskey” que faz parte da tradição rural irlandesa. 

Poteen, ou Potcheen, é o resultado da destilação de qualquer coisa que fermente!  Aveia, batata, até cevada! Longe dos olhos do governo.  É o equivalente nos Estados Unidos ao Moonshine.

Em 2015 o Governo Irlandês tentou estabelecer algumas normas para o Poteen. Bom, para os Irlandeses, o Poteen disciplinado nada mais é do que um Shnapps Irlandês (um destilado genérico).  Poteen é ilegal por sua essência!

Por falar em Lei e disciplinação ou regulamentação, a IWA (Irish Whiskey Association), possui normas para proteger o whiskey Irlandês.

Basicamente, são regras muito parecidas com as já conhecidas Leis Escocesas.  Mas dois detalhes chamam atenção:

1- Madeira do Barril:   Carvalho não é obrigatório!  Isso abre um leque de opções inimagináveis!  Embora ainda essa liberalidade seja pouquíssima explorada comercialmente!

Mas muito experimentada internamente, até mesmo em degustações privadas para privilegiados em visitas à destilarias Irlandesas!

Madeiras como a nossa Umburama já envelhecem whiskey Irlandês (!!!).

2- Pure Pot Still:  A assinatura Irlandesa para Whiskey! A mistura de cevada maltada e não maltada no mosto, destilada em alambique Pot Still.

Surgiu no início do séc. XIX, devido à um imposto sobre a cevada maltada, levando os destiladores a empregar grandes proporções de cevada não maltada no mosto.

Mas é fato que isso foi um elemento definidor dos sabores e aromas do whiskey Irlandês.

E mesmo não sendo regra, tornou-se tradição a tripla destilação para o Whiskey IrlandêsEmboraseja comum o lançamento de excelentes single maltes irlandeses duplamente destilados.

Os Irlandeses criaram um produto consistente e uniforme em termos de qualidade e disponibilidade.

Até o começo do séc. XX o whiskey Irlandês era mais popular que o whisky Escocês.   Até na Escócia!!!

Mas…

Em breve a segunda parte: A decadência e a ressurreição do Whiskey Irlandês.

2 comentários

  1. Incrível essa história. Tem muita coisa que eu realmente não sabia sobre a Irlanda nessa matéria!

    1. Muito obrigado, Junior!
      Fico satisfeito que tenha gostado.
      Aprendi muito estudando pra escrever esse artigo!
      Saúde!

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