144. Belgian OWL – 45 months/72,9% ABV – Cask Strenght!!!

Whisky de malte produzido pela Belgian OWL Distillery (Destilaria Coruja Belga).

Sem corante, sem filtragem à frio, com 72,9% de teor alcoólico!!!

Foi engarrafado sem qualquer diluição com água.  Whisky com “a força do barril”!

A destilaria difere seus lançamentos cask strength pelos meses de maturação e ABV.  Motivo pelo qual aparece no título.

A Destilaria Belgian OWL, encheu seu primeiro barril em outubro de 2004, sendo a primeira destilaria de whisky de malte produzindo na Bélgica!  Engarrafando seu primeiro single malt três anos e um dia depois (chamado Identité).

O simbolismo da coruja remete à sabedoria.  Tanto para a produção, quanto para o consumo de whisky.

Surgiu da iniciativa do enólogo e, hoje também, mestre destilador:  Etienne Bouillon.

Ele fundou sua destilaria no solo fértil de Hesbaye (próximo a Liège), em um lugar cheio de história.  

Um prédio antigo, onde no sec. XIII abrigou um antigo mosteiro.

Incendiado no sec. XV, reconstruído anos depois, serviu como fazenda até o local ser adaptado a servir como destilaria.

O lugar é muito acolhedor.

E um local estratégico, onde o mestre quer provar a ligação da matéria prima belga aos detalhes de seu whisky. 

Simplesmente quer demonstrar seu terroir !!!

Para isso possui justo acordo com os fazendeiros vizinhos para conseguir a matéria prima.

Bom, e o whisky recompensa quem o ama verdadeiramente!

Tanto que num festival de whisky na cidade de Gent, no fim da década de 2000, foi apresentado e convidado a apresentar seu whisky, a um dos maiores especialistas de whisky do mundo, o mestre destilador: Jim McEwan!

Famoso por seu trabalho na Bruichladdich, naquela época (hoje, Jim é o maior nome, da ainda inédita em lançamento de whisky, Destilaria Ardnahoe, em Islay).

Jim ficou impressionado com o whisky de Etienne e vendo seu entusiasmo sobre o tema terroir e whisky, um tema recorrente na Destilaria Bruichladdich, o convidou para um estágio!

Na época, a Bruichladdich tinha como co-proprietário, o talvez hoje, maior defensor do terroir para whisky em todo o mundo: Mark Reynier!!!

Famosinho!

Ele é citado por nós em nosso artigo sobre o tema terroir que você pode ler aqui

Hoje, Mark é fundador e CEO da Renegade Spirits, que inclui a Waterford Distillery na Irlanda e a Renegade Rum Distillery em Granada (Caribe).  E não perdeu o foco!!!

Quanto à Etienne, de 7h às 19h aprendia tudo que podia numa das melhores destilarias do mundo com um dos melhores mestres destiladores!

E lá, vendo um grande alambique Pot Still servindo de decoração na frente da entrada da Bruichladdich, surgiu a ideia de querer aquilo para si! O que os proprietários da destilaria escocesa logo o dissuadiram da ideia.

A Bruichladdich havia comprado um par de alambiques de uma destilaria silenciada e que iria, infelizmente, ser demolida, a “Inverleven” (uma pequena destilaria de malte que ficava dentro da, hoje também extinta, gigante destilaria de grãos, “Dumbarton”).

Um alambique está em uso até hoje na Bruichladdich!  É a “Bete, a feia”! onde se fabrica o famoso Gin “The Botanist 22”.  Um dos poucos alambiques estilo “Lomond” em atividade.

  O outro, o mencionado acima, objeto de desejo de Etienne, esteve como decoração como dissemos, por um bom tempo, depois foi levado para a Irlanda por Mark Reynier, para sua Waterford.

Passado algum tempo, Etienne, tocando a vida e a destilaria na Bélgica, recebe um telefonema de sua filha, Katia, que também fazia um estágio na Bruichladdich, e ela o coloca na linha com Jim McEwan.

Para a surpresa de Etienne, Jim havia conseguido para ele um par de alambiques da silenciada destilaria Caperdonich, originalmente criada para ser uma “Glen Glant 2”, mas que nunca conseguiu produzir um malte semelhante (cada destilaria é única, amigo leitor!!!), lá em 1898!

 Caperdonich passou por diversas reaberturas e fechamentos, também com mudanças de proprietários, até a sua total demolição em 2010.

Pois bem, Etienne aceitou até sem saber o preço!

E levou seu par de alambiques da Escócia para Bélgica.

Em 2013 eles começaram a produzir whisky belga, substituindo os antigos alambiques datados de 1880, pouco mais antigos, mas com formatos totalmente diferentes.

Um whisky que adquiri para matar a curiosidade.

Foi o primeiro single malt Belga.  A primeira marca a nível industrial.

Etienne Bouillon é um visionário.  Está escrevendo sua história no mundo do whisky.  Com tropeços, mas escrevendo (vocês vão entender).

Sua destilaria é seu laboratório.

Recentemente lançou um whisky completamente inovador!!!

Simplesmente recriando num ambiente controlado o que estudiosos do mundo do whisky já escreviam em seus artigos mundo à fora!

O barril respira.  Há troca de ar com o ambiente que o cerca.

Partindo dessa premissa, Etienne maturou um barril que já envelhecia whisky por 11 anos, numa bolha hermeticamente fechada cheia de Açafrão por 127 dias!!!

Tirou o barril de lá, engarrafou e colocou seu “Diamante dourado” a venda por surpreendentes 1000 Euros!!!

Açafrão caro da porra!

É uma inovação.  A indústria do whisky passou por muitas!  Umas deram certo.  Outras, não.

Mas voltando para nossa degustação, essa versão da Belgian OWL, cask strength, foi, sem dúvida alguma uma das maiores surpresas que já tivemos no mundo do whisky!

Pra pior.

Lágrimas bem finas escorrem rápidas pela taça, permanecendo respingos nas laterais.

Notamos que o aroma demora a se soltar. É bem fechado.

À medida que o tempo vai passando vai se abrindo um pouco mais e junto a isso, a sensação alcoólica, que é forte, vai se dissipando.

Baunilha, coco e amadeirado.  Possui uma nota herbal bem forte.  Alecrim, café e capim limão.

Na boca é uma pancada!!!

Seus 72,9% de teor alcoólico são castigantes ao paladar!

É difícil permanecer por muito tempo com o whisky na boca! 

Aquela sensação tânica, ácida, de boca amarrada e cítrica, de mexer na sensibilidade dos dentes é intensa e chega bem próxima de ser desconfortante.

É desequilibrado!

Fácil perceber cítrico intenso (limão), e apimentado (pimenta malagueta); além, de um pouco de dulçor e amadeirado com muita, muita, adstringência!

Retrogosto longo!  Com amargor adstringente, que vai se dissipando lentamente transformando-se num dulçor cítrico.

O whisky mais tânico e ácido que já degustamos!

Geralmente degustamos um whisky por duas vezes.  Dois dias diferentes.

 Se for um whisky que já possuímos boa memória (de)gustativa das características da destilaria, pode até ser uma prova só.

A garrafa mais linda X o líquido mais desequilibrado.

Mas esse whisky fizemos questão de repetir várias vezes a degustação. 

Porque olhávamos para a tacinha, para a espetacular garrafa e pensávamos: “não é possível” !!!

Não podemos ter certeza, mas podemos especular sobre essas características, a nosso ver negativas, em cima de informações obtidas.

Sabemos que Etienne gosta de um ponto de corte que se aproveita mais a cauda do spirit.  Sua justificativa: gosta de um whisky leve e frutado.  E faz o corte apenas cheirando o destilado.  A cauda possui maior nível de acidez.

O destilado é colocado com teor alcoólico alto nos barris (69 – 70%); e quanto mais alto o teor alcoólico, mais se extrai compostos da madeira.  Mas necessita de tempo pra equilibrá-los.

Sabemos também que os armazéns de envelhecimentos da “Coruja Belga”, são secos.  Em um Warehouse sem, ou com pouca umidade, ocorre o fenômeno do whisky perder mais água do que álcool e seu teor alcoólico subir ao invés de diminuir.  Também com pouco tempo de maturação, simplesmente, se aumenta o álcool sem abrandar outros fatores.

E o mosto? A destilaria deixa fermentando por 72 horas, o que é considerado de média duração.  Bem trivial, desde que se mantenha a temperatura controlada, pois microorganismos podem se aproveitar de qualquer falha.  Temperaturas altas podem dar espaço à bactérias.  Elas poderiam trazer (mais), acidez ao mosto.

Somando-se tudo isso ao fato do whisky ter permanecido apenas 45 meses maturando num barril, sem ter dado tempo ao tempo para fazer sua parte, bom, esse whisky não estava pronto.

Essa caralia é completamente desequilibrada!!!

Destoa da beleza do projeto proposto por seu idealizador.

Tudo bem que com um pouco de diluição é possível a degustação, mas poderia ter esperado um pouquinho mais.  Ou, se foi o caso, de que não pudesse esperar mais (acidez dentro do barril, por exemplo, com risco de se estragar), poderia se realizar a blendagem com outro ou outros barris, se diluísse e engarrafasse com mais equilíbrio.

Mas enfim, nós não fazemos.

Apenas bebemos.

E deixamos aqui nossa análise.

Então…

Saúde!!! 

E cuidado se você tem gastrite!

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