Pela segunda vez realizamos visitas técnicas em destilarias na Escócia.
Nosso planejamento inicial era bem diferente. Mas logicamente também não podemos reclamar. Não é todo dia que um entusiasta de whisky tem a oportunidade de visitar destilarias no país cuja bebida é seu símbolo e faz parte de sua cultura.
Sobre o adiamento do roteiro original… Bem, nosso amigo Becker (Degustando Whisky), está mais do que absolvido no cancelamento da grandiosa expedição tão bem planejada. Vai ficar para outra oportunidade e tenho certeza que será um sucesso!!!
Restou a nós, sozinhos, mas contando com boas orientações do Becker, aproveitar um pouco do que a Escócia pode oferecer a um viajante sedento por mais aventuras etílicas, já que desde 2018, naquela odisseia que tivemos em Islay e Jura, não mais pisamos em terras caledônias!
Decidimos abrir mão do longo roteiro original e ter por base a cidade de Glasgow, fazendo então, visitas técnicas às destilarias nos arredores dessa cidade e, outras destilarias, “teoricamente” próximas, já no começo das Highlands.
“Teoricamente” porque descobrimos que transporte no interior(zão), da Escócia pode ser (é), uma coisa complicada.
E não ajuda se você for uma pessoa calma, distraída, calma, que vai olhando a paisagem, calma, que não presta atenção no horário, calma, enrolada, sem hora pra dormir, alguém aí disse calma???
Antes de pisar na Escócia, passamos por outros países europeus. Não visitamos destilarias mas tivemos oportunidade de perceber como está o “momento whisky” de alguns países. Inclusive faremos análises de rótulos pinçados de outros países europeus aqui no site. Acompanhem!
Voltando ao assunto principal, iniciamos o tour Escócia/22 por uma destilaria urbana. Algo raro na Escócia:
– The Clydeside!!!
A caçula das destilas de Glasgow e arredores, começou a destilar em 2017 e sua proposta é confirmar a fama da região de Lowland de produzir whiskies suaves, fáceis de degustar. E aproveitar para tentar acabar com o estereótipo da região de produzir bebidas, digamos, “sem graça” e podemos afirmar:
O que provamos, aprovamos!
A destilaria situa-se em um local histórico em Glasgow, ás margens do rio Clyde.
O belíssimo prédio centenário, com torre e relógio, chamado de “Edifício Pumphouse” no passado, era a entrada do famoso “Queen’s Dock”, um complexo Porto Fluvial para o escoamento de boa parte da produção de mercadorias, principalmente whisky, daquela região da Escócia para todo o mundo!
Ali se abrigava a casa de força que bombeava energia hidráulica para a ponte giratória, controlando o acesso ao Porto.
A primeira etapa da visita consiste justamente numa apresentação cheia de vídeos em várias salas da destilaria contando um pouco sobre a história do whisky na cidade de Glasgow, principalmente sobre a importância que a cidade possui para o whisky como o conhecemos hoje!
Sim. No final do séc. XIX, os Barões do Whisky transitavam pela alta sociedade escocesa em Glasgow, apresentando suas obras de arte etílicas e negociando suas novidades para todo o mundo, colocando seus nomes na história!
Buchanan’s, Teacher’s, Dewar’s, Ballantine’s e Mackie (White Horse).
Eles conviveram. Se amaram e se odiaram.
(Em bem menor escala e importância, lembrei dos entusiastas de whisky aqui do Brasil. Eu ri!).
A importância desses senhores para Glasgow e para a Escócia nunca será esquecida.
Em seguida nossa anfitriã nos encaminhou à área de produção da Clydeside.
Dois detalhes: não é mostrado a área de moagem nem as warehouses!
O que nos leva a crer que essas etapas não são realizadas no local. Muito provavelmente por falta de espaço físico mesmo.
A área de produção é bastante linear, passamos bem rapidamente pelas salas de maceração e fermentação (até porque a destilaria não estava produzindo nesse dia), e chegamos na sala de destilação.
A Clydeside conta com dois alambiques de cobre do tipo Pot Still, diferentes entre si. No meio o “Spirit safe”.
Em seguida fomos para a melhor parte: a degustação!
Por ser uma destilaria nova, a Clydeside possui apenas dois whiskies oficialmente lançados.
Dito isso e em cima do que foi dito, a degustação, em minha opinião, foi extremamente criativa!
O primeiro rótulo lançado pela destilaria foi uma mistura de whiskies envelhecidos em barris de primeiro uso, ex Borboun e ex Jerez por 3 anos e um dia de envelhecimento.
Sem corante. Sem filtragem à frio.
Nós destrinchamos esse rótulo!
Degustamos o “new make”, à 63,5% (incrivelmente suave no paladar, com malte e leve apimentado);
O ex Borboun (fresco, doce e suave. Retrogosto curto); separadamente.
E em seguida o ex Jerez (frutado e doce, com leve picância. Retrogosto médio). Ambos à 46% ABV.
Depois misturamos os dois whiskies envelhecidos e pudemos experimentar como resultado, o primeiro whisky da casa!
Bem legal!
Suave. Mas com uma pegada frutada e adocicada muito bem vinda. Sem qualquer sensação alcoólica.
Em seguida experimentamos um whisky comemorativo!
A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas, foi realizada no ano de de 2021, em Glasgow, na Escócia.
A “Conferência das Partes” (COP) é o encontro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizado anualmente por representantes de vários países com objetivo de debater as mudanças climáticas, encontrar soluções para os problemas ambientais que afetam o planeta e negociar acordos.
Esse whisky, comemorativo, teve pouco mais de 1500 garrafas produzidas. Seu envelhecimento deu-se primeiramente em barris quater cask ex Borboun (de segundo uso). Em seguida o líquido foi retirado e colocado em barris normais, de 200l, ex Bourbon de primeiro uso para whisky escocês, para uma finalização, por alguns meses. Em um total de 3 anos e um dia de maturação.
Este, mais complexo em aromas e sabores. Um whisky jovial e interessante! E você já pode ler o review completo clicando AQUI!!!
Uma hora vai ter…
Todos os whiskies sem corante e sem filtragem à frio, produzidos com cevada escocesa e uma qualidade admirável!
Whiskies jovens, sem percepção alcoólica, num clima frio e boa complexidade. Huuumm… Lowland!
Surpreendeu!
Foi realmente um tour especial e desbravamos!
Mas embora a propaganda diga que Clydeside fez Glasgow produzir whisky de malte urbano desde muito tempo sem uma destilaria funcionando por lá…
(A última, pela literatura, seria a destilaria Kinclaith, silenciada em 1957).
Mas descobrimos também que em 2014, foi “inaugurada” a Glasgow Distillery Company !!!
Uma destilaria que produz: Gin, Vodka, Run, Blended whisky e… Single Malt Whisky!
Segundo informações de seu site, “reinaugurada”, tendo em vista que sua inauguração foi ali em 1770 (!!!), tendo encerrado suas atividades no início do séc. XX.
A Glasgow Distillery Company foi destronada pela Clydeside, hoje a mais nova de Glasgow realmente.
“Em 2014, a Glasgow Distillery Company reabriu tornando-se a primeira destilaria de whisky de malte único em Glasgow por mais de 100 anos. A Glasgow Distillery Company está restabelecendo a tradição metropolitana do Scotch Malt Whisky ao lado das grandes regiões de whisky e trazendo o Glasgow Malt Whisky de volta à vida!”
Fonte: https://www.glasgowdistillery.com/the-distillery/our-story
E está aberta à visitação! Mas infelizmente não tivemos tempo de visitá-la.
Mas nós degustamos um rótulo!!!
E tinha que ser turfado, claro!
Turfa seca e suave. Leve malte.
Sem percepção alcoólica. Leve amargor.
Mais uma curiosidade de Glasgow!
Essa última degustação já se deu na volta da primeira destilaria visitada, já era hora do almoço e foi num restaurante bem próximo ao hotel.
Nos hospedamos bem próximo à Buchanan Galleries (onde fica a Whisky Shop). Também próximo à estação de trem, metrô e ônibus.
Um lugar estratégico!
Usando o aplicativo Rome2rio e Uber, quase não tivemos problemas. QUASE!
Partimos então na parte da tarde para nossa segunda destilaria. E estávamos ansiosos por isso!
– Glengoyne!!!
A ida para Glengoyne foi tranquila, usamos o serviço de ônibus público e em menos de uma hora, saímos de Glasgow e chegamos à destilaria que fica num local isolado, porém muito lindo! Ali bem na divisa entre Lowland e Highland. Perguntamos ao nosso anfitrião a qual região a destilaria pertencia e ele sem pestanejar respondeu: Highland, claro!
Dá pra concordar com ele. Em parte. Pois é sabido que, cruzando a estrada que passa na frente da destilaria e adentrando no terreno em frente, onde fica alguns dos armazéns de envelhecimento, bem… Ali é Lowland!!!
São coisas que nos fazem amar a Escócia! Mas que na prática, não mudam um fenol no whisky.
Falando em fenol, a Glengoyne diz nunca ter produzido um único whisky turfado desde 1833, ano de sua fundação. O foco da destilaria é o malte como personagem principal e o uso de excelentes barris.
A Glengoyne investiu bastante para receber seus visitantes e a natureza ajuda também. O lugar é realmente muito bonito! Bem próximo do monte Dumgoyne, com florestas densas e serras no horizonte.
Nos fundos da destilaria existe uma pequena cachoeira jorrando água para um belo lago.
Começamos o tour vendo algumas fotos históricas, explicações sobre a destilaria, etc.
O símbolo da destilaria, o Ganso, tem origem no segundo nome que ela recebeu “Glen Guir”, que em gaélico significa: “Vale dos gansos selvagens”. E o ganso foi mantido até hoje.
Conhecemos todas as etapas de produção. A destilaria não permite fotos. Apenas fotos dos fantásticos Pot Stills foram permitidas.
Logo depois fomos para uma repartição onde nos foi demonstrado como ocorre a perda do destilado pela evaporação (a tão conhecida “parte dos anjos” ou angel’s share), dentro do barril, devido à influência do tempo e consequentemente também a mudança de coloração.
E degustamos o Glengoyne 12 anos!
Vai ter review.
Bem ali do lado fica a salinha onde se guardavam os primeiros barris da Glengoyne para envelhecimento. O primeiro warehouse!
Continuando o tour, nosso anfitrião nos levou para uma sala reservada. Nós fizemos o tour Malt Master Experience, que nos deu direito de brincar um pouquinho de ser master blender da Glengoyne por alguns bons minutos.
E o que isso na prática significa?
Bom, tivemos a oportunidade de degustar várias amostras e fazer nosso próprio single malte, de acordo com os maltes da Glengoyne disponíveis naquele momento. Uma blendagem de amostras sem diluição, com idade variando entre 17/18 e 20/21 anos.
80%, da amostra nº 4 e 20% da amostra nº 05.
Nosso Glengoyne ex Jerez, carvalho europeu, 20/ 21 anos, pronto!
Uma bomba de ex Jerez!
O tour termina estrategicamente na loja da destilaria, que possui um pequeno Bar/café.
Para nossa surpresa, ainda nos foi oferecida, generosamente, uma dose do Grengoyne 25 anos!!!
Isso faz um tour ficar gravado na memória para sempre.
A volta para Glasgow foi fácil. Existe um ponto de ônibus praticamente em frente à destilaria.
Chegamos relativamente cedo e ainda com energia para conhecer um “Bar de whisky”. Esses estabelecimentos são comuns na Escócia e excelentes para conhecer rótulos e garimpar raridades.
O Becker nos indicou dois bem famosos e escolhemos mais um. Das seis noites passadas na cidade, em três tivemos ânimo para sair. Vamos falar das destilarias, depois falaremos sobre os pubs.
No dia seguinte, acordamos cedo e tivemos que pegar um Uber para os arredores da cidade de Doune, nas Highlands do Sul. Quase uma hora de viagem.
E finalmente chegamos na terceira destilaria do tour.
– Deanston!!!
De certa forma o tour é frustrante.
Vou explicar.
A destilaria te dá duas opções de visitação.
Uma em que você conhece os intestinos da empresa, mas degusta um, eu disse UM whisky.
A outra opção, você vai direto a um armazém de envelhecimento e retira três amostras de barris escolhidos pela destilaria e degusta.
Para uma primeira visita, pela lógica, o entusiasta quer saber como é a estrutura da destilaria. Sempre há detalhes que se vê em uma destilaria, ou que se vê “naquele momento” na destilaria, que não se vê em outra.
Sim, isso acontece. E aconteceu!
Mas quem quer ver detalhes também quer degustar além do óbvio!
A destilaria deveria pensar mais no entusiasta de whisky.
Sobre a visita em si, o local é muito bonito. Um pouco afastado do centro da cidade a qual pertence e às margens do belo rio Teith.
O prédio da destilaria possui uma parte bem antiga. Era antes uma fábrica de algodão. Possuía uma roda d’água gigante (e outras 3 menores), girada pela força da água do rio Teith que gerava energia para o maquinário do velho Moinho. Disseram que já foi a maior da Europa (apelidada de “Hércules”)!
A parte administrativa e receptiva aos visitantes já é bem mais nova.
Essa é a porta de entrada dos escritórios! Como adorno receptivo, a cabeça de um imponente Stag!!!
Iniciamos o tour…
Novamente, todas as etapas de produção: moagem, maceração, fermentação, destilação.
Os Pot Stills são bem antigos!
Paramos para degustar, como dito anteriormente, UM whisky! O Deanston 12 anos.
Não, esse não vai ter review. Achei simples em comparação aos muitos Deanstons com envelhecimentos e finalizações até surpreendentes à disposição para venda (alguns deles serão analisados).
Fomos a um dos armazéns de envelhecimentos e vimos barris de outras destilarias do grupo descansando por lá.
E tivemos a sorte de ver um detalhe…
Enquanto fazíamos o tour começaram a encher alguns barris com new make!
Muito legal!!!
E rústico! Vai no olhômetro. Enche de entornar no chão.
E o tour estrategicamente, é claro, termina na lojinha da destilaria.
Fizemos nossa comprinha, tomamos um café por lá e confirmamos que não passa ônibus, não tem Uber e a cidade não tem estação de trem (tínhamos esperanças de alguma facilidade no transporte).
Tínhamos quatro horas para dar um jeito de chegar até a Destilaria Glenturret, próxima da cidade de Crieff, cerca de 33 Km de onde estávamos.
Pedimos então, ao pessoal da destilaria, que nos conseguisse um táxi até a cidade de Dumblane.
Por que Dumblane?
Porque lá passava uma linha de ônibus que tinha como destino Crieff, cidade que fica uma caminhada de 2 Km até Glenturret.
E assim foi feito.
Objetivo alcançado: Crieff!
E caminhando por uma bela estrada, primeiramente cercada por mansões, depois no meio da floresta, chegamos na…
– Glenturret!!!
Considerada por ela e por alguns autores a destilaria mais antiga em funcionamento da Escócia (mas passou vários períodos fechada).
A Glenturret já foi o lar espiritual do popular Famous Grouse, o blended mais vendido da Escócia.
Hoje vendida ao grupo francês Lalique, não deixou resquício algum de seu passado galináceo e seu único objetivo é passar uma imagem de luxo, delicadeza, suavidade e perfeição em cada detalhe. Só isso!
Na destilaria funciona um restaurante premiado com estrela Michelin, uma loja de cristais da Lalique e lógico, uma loja de whisky com as novíssimas lindíssimas garrafas reformuladas para conter o ótimo whisky da destilaria.
As salas de recepção e degustações também foram reformadas e decoradas com muito bom gosto.
Curiosamente toda a área de produção continua a mesma.
No pátio, a estátua da gata Towser, em bronze, dá as boas vindas aos visitantes.
Towser trabalhou como ratoeira na destilaria de 1963 até sua morte em 1987 (capturando 28.899 ratos!!! Suas conquistas foram reconhecidas pelo Guinness World Records). Quem será que ficou contando?
Ainda engarrafaram um whisky em sua homenagem!!!
A destilaria mantém a tradição de ter gatos. Ou será um indício que possui ratos?
Atrás da estátua da gata fica a sala geral de degustação. Lá degustamos o Glenturret Peat Smoked 10 anos.
É suave, é delicado, é elegante. E tem personalidade.
É incrível como um whisky com 50% ABV consegue ser delicado!
É notório também que estão investindo mais em barris ex Borboun e whiskies turfados. E estão de parabéns por lançarem seus whiskies com generosos percentuais alcoólicos! Por favor, continuem.
Também aqui na Glenturret fizemos o tour que envolve blendagem de maltes da destilaria. Como na Glengoyne, blendamos o nosso single malt.
Dessa forma, nos deslocamos para o segundo andar, para uma belíssima sala de degustação com lustres de cristais e várias adegas climatizadas cheias de… vinho!
Não os julgo, também gosto!
É o melhor tour oferecido hoje pela destilaria.
Mas aqui o foco é diferente. As amostras não nos foram apresentadas por idade ou tipo de barril. Foram divididas em campos de aroma/sabor.
O que, sinceramente, foi meio decepcionante.
Os campos de aromas e sabores eram:
Frutado, fragrância, especiarias, turfado e doce.
Sinceramente, os outros quatro frascos já haviam “fragrância” suficiente. Mas ficou um whisky gostoso. Adivinhem? Suave.
Foi interessante a visita a essa destilaria. Nosso anfitrião nos garantiu que, hoje, nenhuma gota de Glenturret é usada na fórmula do Famous Grouse. É até estranho escrever isso, visto que, anos atrás, “Famous Grouse Experience” era um tour extremamente concorrido para qualquer entusiasta de whisky que viesse à Escócia!
A tarde passou depressa!
Ainda conseguimos dar uma passadinha na loja, mas não chegamos perto do restaurante.
Segundo o aplicativo, estava próximo do horário do último ônibus para Glasgow!
Só 2 km para o ponto, pensamos. Vamos caminhar com essas bolsas pesadas… Vai dar certo!
No meio do caminho tivemos dúvidas se deveríamos ter chamado um táxi.
Chegando no ponto do ônibus tivemos certeza!
Ele, o ônibus, já estava de partida e quando ele se movimentou, corremos!
Corremos e descobrimos que escocês não para pra maluco gritando atrás de um veículo em movimento. Então, olhamos em volta e vimos muitos olhares de reprovação.
Pensamos sem desespero algum: Fodeu!
Amanhã de manhã seria mais uma destilaria. Precisamos voltar hoje pra Glasgow!
Fomos em direção ao único ser humano presente à cena que parecia ter tido um pouco de empatia, uma senhorinha, e perguntamos com nosso inglês trifásico (um pouco de fala, mímica e google tradutor), onde ficava o ponto dos taxistas…
Gentilmente ela nos levou por uma rua próxima, cerca de trinta metros daquele local, ao “escritório de táxi”, sim existe isso lá! Mas devido ao horário já estava fechado.
Antes que perguntem, sem sinal de Uber na cidade.
Agradeci muito e ela nos desejou sorte, não sem antes comentar com a dona do restaurante ao lado do “escritório dos taxistas” sobre nosso infortúnio!
Nos despedimos e ficamos sob custódia da dona do restaurante e sua filha, uma no computador, outra no telefone, dando um jeito de arrumar um taxista!
O plano era chegar até a cidade de “Stirling”, onde ficava a estação de trem mais próxima e assim conseguir chegar em Glasgow ainda naquele dia (noite).
Finalmente elas conseguiram contactar um taxista na cidade que aceitou fazer o trajeto.
Ele nos pegou no restaurante.
Agradecemos muito à essas três gentis escocesas de Crieff, que demonstraram que gente boa existe no mundo todo e que nos ajudaram a conhecer no dia seguinte a destilaria:
– Auchentoshan!!!
Destilaria famosa entre os entusiastas de whisky devido à sua destilação tripla, muitas vezes subestimada por nós brasileiros que, infelizmente não temos acesso a seus melhores maltes. Ela nos surpreendeu. Para melhor!
Ao contrário do que muitos pensam, não fica literalmente em Glasgow. Fica mais ou menos há vinte e cinco minutos de carro do centro de Glasgow, às margens da rodovia Great Western, na localidade de Dalmuir, pertencente à cidade de Clydebank, no condado de Dumbarton (Dumbartonshire).
Sem dúvidas foi o local mais feio das cinco destilarias visitadas.
Mas o que compensou foi ter tido a sorte de termos sido acompanhados por um anfitrião com paciência para entender nosso “inglês trifásico” e generosidade para ir muito além do que a destilaria diz oferecer no tour.
O tour foi incrível!
Como de costume, alguma explicação sobre whisky, sobre matérias-primas e aí: moagem, maceração, fermentação e finalmente o que queríamos ver in loco!
A tripla destilação!
E vimos funcionando!!!
Pela lógica, até mesmo com um simples alambique destilando sozinho em três etapas eu consigo uma tripla destilação.
Mas você vendo três Pot Stills funcionando, cada um ali, esperando sua vez, como um músico esperando sua deixa numa orquestra, é sensacional!!!
Funcionam da direita para a esquerda.
A sala estava bem quente!
Seguimos para uma warehouse e me deparei com esse colchão para derrubar barril.
Como uma destilaria quase bicentenária não tem uma máquina para baixar o barril?!?
Depois nos foi oferecido uma degustação muito além do que estava combinado.
Bom, os quatro rótulos propostos viraram sete.
E no final, nosso anfitrião pediu que nós esperássemos pois iríamos ganhar um presente!
Ganhamos isso!
Coração pulsa alegre, né!
Essas foram nossas destilarias visitadas nessa viagem.
Em cada uma delas nós aprendemos um pouquinho mais.
Mas Glasgow tem mais a oferecer ao bom bebedor de whisky e apreciador de comidas típicas escocesas!
– Bares de whisky em Glasgow –
Ok, podem chamar de “pub”, como na Inglaterra, embora o foco no malte seja um pouquinho diferente. E é!
Apesar da globalização ser responsável por haver num mesmo quarteirão de Glasgow, um restaurante indiano, um italiano, um koreano e um bar de whisky; os escoceses ainda zelam por manter forte suas tradições.
E comida e bebida são tradições fortes por lá.
Tudo bem que pode haver uma certa gourmetização, de ingredientes ou pratos típicos, mas isso até o capitalismo mesmo explica pois seria difícil, por exemplo, vender um haggis original, cozido num estômago de ovelha, para um turista.
Também o café da manhã escocês passaria fácil como um almoço para muitos brasileiros.
Mas acreditem, é tudo muito delicioso!
E tem muita fartura.
E no fim do dia, se você quer relaxar, comer uma dessas comidas gostosas, beber uma cerveja de alta qualidade ou um trago de seu whisky favorito ou mesmo um whisky raro; em Glasgow você acha lugares especiais! Próprios para isso.
Temos certeza que o Mauricio e o Guilherme também tiveram essa mentalidade quando criaram o Caledonia lá em São Paulo!
Nessa ida à Glasgow tivemos saúde para sair em três noites e em cada noite, três locais diferentes.
Em todos três, o ambiente é bastante alegre e o atendimento acolhedor.
– The Pot Still!!!
Muita gente jovem, muito whisky, muita cerveja!
Funcionários experientes que te entendem e te ajudam no pedido.
Fica há uma caminhadinha fácil à oeste da estação de trem “Queen Street”.
– The Bon Accord!!!
Muitos whiskys raros, clientela mais madura, ambiente um pouco mais refinado. Mais lugares para sentar.
Ali degustamos um Port Ellen de 35 anos de envelhecimento. Um single malt de uma destilaria silenciada.
E tinha muita coisa rara, claro, a preços astronômicos! (Para um brasileiro com uma moeda fodida, fraca! Quis dizer, fraca!)
Fica mais 1 km de caminhada à oeste do The Pot Still, bem pertinho da Biblioteca Mitchell.
– The Piper Whisky Bar!!!
Esse Visitei porque foi muito bem recomendado como tendo ótima comida.
Pub bem frequentado pelos locais e sempre tem música ao vivo.
Mas ótima comida chamou um monte de ótima bebida!
Muita opção!
Fica bem no centro, na “George Square”
Glasgow é uma cidade efervescente!
Com muita diversão, cultura e acesso a outras partes da Escócia!
Tentamos fazer uma visita ao Lago Ness num dia sem visita à destilaria. Não conseguimos. Mas por culpa nossa. O cansaço foi maior e perdemos a hora do tour.
Lembram daquele caso de que eles não param o ônibus pra maluco correndo atrás?!?
Pra Van de operadora de turismo funciona da mesma forma!!!
Testamos.
Ao menos abriu espaço para visitarmos os dois Estádios da cidade, casa dos Rangers e do Celtics. Os escoceses também são apaixonados por futebol e conseguimos assistir até uma partida do campeonato escocês no estádio dos Rangers.
Mas foi uma gota de relaxamento numa Glencairn cheia de preocupações que ainda estavam por vir!
Na volta para Londres na manhã seguinte, perdemos o trem Glasgow x Londres.
Tivemos que esperar pelo próximo, algumas horas depois. O que desencadeou um efeito dominó:
Já em Londres, perdemos o voo para São Paulo.
Acho. Assim, ACHO, que temos um pequeno problema com horário. E sozinhos, o esgotamento mental parece dominar.
Culpa também do trânsito de Londres, da fiscalização lerda e dos whiskies do embarque do aeroporto espalhados estrategicamente (me compre!), para nos atrasar!
Voo remarcado!
Voltamos no dia seguinte, depois de saber que no voo perdido havíamos sido contemplados com upgrade de cabine(!!!), e que agora, a escala em São Paulo para Vitória seria de 12h (antes era de 4h).
Quando chegamos em São Paulo, verificamos que as malas cheias de whisky não vieram. Ficaram em Londres!
Desespero! A história de uma viagem contada em garrafas estava naquelas bagagens!
Não posso dizer que fiquei sem cor! Isso já não era mais possível.
O sentimento foi como ter perdido o último ônibus no interiorzão da Escócia. E o pensamento também foi o mesmo: Fodeu!
Resilientes, fizemos todos os trâmites junto à companhia aérea para extravio e localização de bagagem.
E fomos procurar uma cerveja!
Ainda faltavam 12h de espera para um voo de 1h e 30min, pegar o carro no aeroporto de Vitória e dirigir por 3h e 30min para chegar em casa.
Pensando nas malas.
Mas o final foi feliz!!!
Chegaram três dias depois, no endereço que indiquei, junto com meu bom humor.
E pelo menos estavam intactas todas as garrafas! E os acessórios também!!!
Ufa!!!
Mas, enfim! Viajar para a Escócia, conhecer destilarias é um luxo que poucos brasileiros tem acesso. Somos muito gratos por poder viver tudo isso de novo.
Nosso objetivo é dar dicas, mostrar erros e acertos para que a sua experiência, caso tenha a oportunidade, possa ser ainda melhor que a nossa.
Nós amamos a cultura do whisky.
Dentro do possível vamos compartilhar com vocês leitores as análises dos whiskies da viagem lá no Blog e também no Instagram do @whiskysimplificado.
Tem muito conteúdo pra publicar.
Obrigado por nos acompanharem.
Obrigado aos amigos pelas dicas que nos deram por onde andamos.
Saúde!!!
6 comentários
Pular para o formulário de comentário
Show de bola. Curti muito sua narrativa. Sds Vascainas!
Autor
Saudações vascaínas, amigo! Obrigado pelo comentário. Saúde!!!
Parabéns pela viagem e obrigado pelo relato tão detalhado, engraçado e que ajudará muito a quem for curtir a terra do whisky e da gaita de foles.
Autor
Obrigado pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado. Saúde, amigo!
Eita, viajei junto! Obrigado por compartilhar; saúde!
Autor
Obrigado. A ideia é realmente essa! Viajar junto! Saúde!!!