Whisky de malte produzido pela destilaria brasileira, Union.
48% de teor alcoólico, não passou por filtragem à frio e não lhe foi adicionado corante.
2005!
Época em que a totalidade da produção da destilaria concentrava-se na cidade de Veranópolis/RS.
Todo o whisky desta edição foi envelhecido em barris de carvalho americano que antes contiveram Bourbon.
A empresa optou por dar ênfase ao ano de destilação dos maltes. Claro, indicando também o ano de engarrafamento (2022). Numa conta simplória, seriam 17 anos envelhecendo em barril, mas como não se completou o ciclo, exclui-se os meses e temos assim, um whisky de 16 anos.
O termo “Vintage”, de acordo com a Lei Escocesa (que a Union tem como parâmetro de qualidade), pode ser aplicado, desde que se aponte o período ou safra (aqui indicando um único ano de destilação de todo whisky da fórmula). Deixando também especificado no rótulo o ano de engarrafamento.
É um whisky “safrado” e a destilaria deu ênfase a isso no rótulo.
A palavra “Vintage”, significa também para a Union, uma linha de produtos especiais. Tiragens exclusivas e limitadas.
O primeiro whisky da linha “Vintage” foi o Pure Malt Whisky Vintage 70 (comemorando os 70 anos de fundação da empresa em 2018). Uma tiragem de 849 garrafas, lançado em 2019, já esgotado.
Agora em 2022, com 2005 garrafas numeradas, é lançado o Pure Malt Whisky Vintage 2005!
E o que constatamos:
Possui coloração dourada. É límpido e brilhante na taça.
Lágrimas bem estreitas, em grande quantidade, escorrem de forma lenta, permanecendo whisky por todo bojo, grudado por muito tempo.
O mais oleoso whisky da destilaria Union, até o momento, por nós degustado.
Aroma intenso! Malte, muita baunilha, leve amadeirado e agradável citricidade de frutas amarelas, principalmente abacaxi, com um toque de damasco e mamão.
A percepção alcoólica no nariz é mínima.
Na boca o corpo é médio. A oleosidade percebida no visual não é tão pungente no paladar.
O doce do malte, a baunilha, o frutado e principalmente um apimentado forte são marcantes.
Os 48% de teor alcoólico não passam despercebidos. Passa um pouco da sensação alcoólica na língua. É quente!
O retrogosto surge longo e doce; com uma nota cítrica se esvaindo lentamente, ficando o apimentado por um bom tempo, juntamente com um discreto sabor de coco.
Com a taça esvaziada e passado alguns minutos, permanece o frutado e a nota de baunilha ainda bem evidente.
Lembra bastante o Pure Malt (o whisky de entrada dos “single malts” da destilaria), mas com um punch a mais. Uma pegada mais forte e com mais personalidade.
Não obstante, é nossa opinião que o fato de ser “16 anos” poderia ser melhor explorado, estampado no rótulo ou na caixa. Achamos que seria um belo marketing!
É um whisky muito bem feito. Mas esperava mais complexidade por seus 16 anos de envelhecimento (talvez foram usados apenas barris de reúso).
Longe de qualquer polêmica, entendemos ser o produto um marco para a indústria de whisky nacional.
E aqui se faz necessário uma reflexão:
Nem sempre envelhecimento em barril e maturação podem ser sinônimos. Em lugares quentes como nosso Brasil, o envelhecimento se dá pela contagem do tempo, como em qualquer lugar. Mas maturação pode significar um aceleramento do processo de interação entre a madeira, o oxigênio e o destilado, buscando sempre o melhor ponto de qualidade do produto.
E um dos fatores que acelera esse processo é o clima.
Como exemplo, um whisky com 5 anos de envelhecimento no Brasil, será muito diferente de um whisky com os mesmos 5 anos de envelhecimento na Escócia!
O whisky brasileiro estará mais maturado que o escocês.
Por isso esperávamos mais complexidade.
Nosso país é predominantemente quente. O calor acelera a maturação!
Com relação ao preço, o custo x benefício talvez não cative à primeira vista. Mas trata-se do whisky de malte brasileiro mais envelhecido lançado no mercado nacional! Somando-se a isso, também é um produto com apresentação impecável.
E ainda…
O mesmo fator que acelera a maturação, acaba acelerando também a perda de whisky dentro do barril, o famoso Angels’Share (a parte dos anjos).
Engarrafar um whisky com 16 anos de envelhecimento no Brasil é um feito e tanto! Aproximadamente 55% do conteúdo do barril simplesmente irá evaporar!!!
A perda de whisky nos armazéns de whisky do Brasil, devido ao clima, é maior do que o dobro da perda que acontece, como no exemplo anterior, na Escócia, com o mesmo tempo de envelhecimento.
Infelizmente, é um fator que afeta negativamente o preço final.
E isso também deve pesar na hora do entusiasta adquirir ou não o rótulo em questão.
Cabe a você leitor, decidir o tamanho da sua sede! Mas fizemos o favor de informá-lo sobre as complexidades de se produzir bons whiskies no Brasil.
E que venham cada vez mais whiskies envelhecidos, para que o entusiasta brasileiro tenha diversidade para escolher o perfil de whisky que mais lhe agrada.
Saúde!!!
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2 comentários
Muito obrigado por esta bela avaliação, simples e ao mesmo tempo bem clara e completa!
Eu já visitei a destilaria, conheço sua história, produtos, e certamente colocarei mais este rótulo na minha prateleira.
Autor
Obrigado, amigo! E boa degustação. Saúde!