103. Glenfarclas 105!!!

60% de teor alcoólico.

Whisky de malte escocês, sem filtragem gelada e sem corante.

Whisky “cask strength” (com a força do barril), envasado sem diluição em água.

A destilaria Glenfarclas começou, legalmente, sua produção no ano de 1836 (mas há registros de que já se produzia whisky anteriormente desde 1797, de forma clandestina), pelas mãos de Robert Hay, que fornecia whisky aos vaqueiros viajantes com destino à cidade de Elgin.

Em 1865, foi vendida.  Passou a ser administrada pela família, “Grant”.  Um verdadeiro negócio de família, não tendo qualquer vínculo com grandes grupos ou conglomerados de marcas.  É tradicional. No sentido mais estrito da palavra.

Interessante que o “Grant” dos fundadores da Glenfarclas, não tem relação de parentesco com o sobrenome “Grant” da Glenfiddich, e ambas não tem relação com o “Grant” da Glenrothes e nenhuma dessas tem relação com outra família “Grant”, agora da destilaria “Glen Grant”.  Ufa!!  “Grant” parece ser um sobrenome comum na Escócia!

A Glenfarclas sempre orgulhou-se de ser uma destilaria das “Highlands” Escocesas. 

Ocorre que em 2009, a “Scotch whisky Association” (SWA), associação que gere os negócios sobre whisky escocês, criou uma subdivisão dentro das Highlands; uma pequena região, mas que engloba dezenas de destilarias ás margens ou próximas ao rio “Spey”.  Pequena em tamanho mas a região que mais produz whisky de malte na Escócia:  Speyside!

 Mas a Glenfarclas até hoje não se rendeu a nova nomenclatura regional.

A Glenfarclas possui seis alambiques e estes são alguns dos maiores destiladores da Escócia!  Os maiores de Speyside!  Sempre quatro em pleno funcionamento e dois reservados.  Para revezamento.

Seus alambiques possuem uma característica pouco usual hoje em dia, são aquecidos com fogo direto, fogo à gás ( a maioria das destilarias usam vapor para aquecer seus alambiques).

Devido ao fogo ser direto, imperfeições podem ocorrer no processo de destilação.  O mosto não queimaria de forma uniforme, alguns sólidos poderiam grudar no fundo da panela do alambique, o que poderia causar defeitos no destilado.

  Pensando nisso, são usadas pás giratórias feitas também de cobre (vasculhadores), que funcionam como hélices, uniformizando a queima no processo de destilação, minimizando efeitos colaterais do fogo direto.

A destilaria vê o fogo direto como algo tradicional e sem o qual suas características, ou seu caráter, não seriam mantidos.

O destilado é pesado!  Excelente para longos envelhecimentos.

E o envelhecimento nas warehouses de Glenfarclas se dá da maneira mais rústica possível!  Velhos armazéns de baixa altura, com telhados de telhas de ardósia e chão de terra batida.

Por estar numa região de clima fresco, aos pés de montanhas, recebendo fortes rajadas de vento, Glenfarclas é uma destilaria que possui seu próprio microclima.

O rótulo “105”, advém da antiga métrica britânica imperial, o “Proof”, que equivale, hoje, há 60% de teor alcoólico.

É fato que, em média, na Escócia, 2% do volume líquido é perdido a cada ano dentro do barril em virtude da evaporação ou oxidação do whisky. 

Isso possui um nome “Angels share”, ou “a parte dos anjos”, expressão romântica para indicar essa perda na maturação.

Na Glenfarclas, essa média é de apenas 0,5%.  Seu microclima a protege.

Mesmo assim, de alguns anos para cá, com a crescente mudança climática que afeta nosso planeta, a Glenfarclas sofre com uma crescente aceleração da evaporação e oxidação no envelhecimento de whisky em seus barris.

O destilado (spirit), completa seu ciclo de destilação com respeitáveis 68% ABV.

Antes de ser colocado em barris, o destilado é reduzido em água para 63,5%.

Isso é a prática usual da destilaria Glenfarclas, mas ela abre exceções.  Existe versões do Glenfarclas 105 com várias idades declaradas, chegando haver uma versão com 40 anos!!!  Mantendo, é claro, seus 60% ABV. Segredos de como administrar os barris!!!

A versão 105 de Glenfarclas por muito tempo era datada como 10 anos de envelhecimento (a versão mais comum), o que por razões naturais, seu ciclo de envelhecimento alcançava os 60% de teor alcoólico (ou 105 proof), com dez anos de maturação.  Hoje isso não está sendo possível!

Os barris estão alcançando o 60% de ABV independente do tempo de maturação.  Barris com 7, 8 anos ou com 12 anos estão chegando ao percentual alcoólico desejável para o tradicional whisky 105 da destilaria.

O resultado?

Lotes de barris com ABVs diferentes e idades diferentes sendo misturados até chegar ao número perfeito de 105 “proof”, ou 60% ABV.  Uma média!  Todo processo sem acrescentar água, mantendo a força do barril.  Mas preferem não mais declarar idade no Glenfarclas 105.

A Glenfarclas orgulha-se de ter engarrafado o primeiro whisky “cask strength” que se tem notícia!!!

 E ele é justamente nosso Glenfarclas 105, lá nos anos de 1968!

Um whisky envelhecido em barris de primeiro uso, bem como barris de segundo e até terceiro uso, todos ex Jerez.  Barris estes que contiveram vinho Jerez Oloroso e/ou Jerez Fino.

Mas o fato de ter sido envelhecido em barris ex Jerez, faz deste whisky uma bomba de Jerez, ou como é bastante utilizado hoje em dia:  um “sherry bomb” ???

Se você parte do pressuposto de que um whisky “sherry bomb” é um whisky envelhecido inteiramente em barris que antes contiveram vinho Jerez, ok!  É um “sherry bomb”!!

Mas se você é um pouco mais exigente e busca num whisky envelhecido em barris ex Jerez, as características do vinho Jerez influenciando no whisky… Não, ele não é um “sherry bomb”!!!

O fato de, por tradição, entregar sempre um whisky com 60% de teor alcoólico e ainda por cima envelhecido em barris medíocres, não o faz um whisky marcante.  Não o faz um whisky marcante em Jerez!!  Isso se você tiver boas referências, boa litragem, de whiskies envelhecidos inteiramente em barris ex Jerez!!!

Se você compará-lo com outros whiskies “cask strength” envelhecidos inteiramente em Jerez de outras destilarias, como Macallan, Aberlour, ou GlenDronach, ele, infelizmente, se torna um whisky mal acabado.

Seguindo…

Sobre nossa degustação:

Na taça é oleoso.  O alto teor alcoólico mostra sua força!  Lágrimas largas escorrem pela taça.

No aroma, o álcool incomoda um pouco.  É melhor esperar alguns minutos.

Após algum tempo, frutas vermelhas, chocolate, canela e noz moscada surgem forte no nariz.

Na boca é um whisky bastante encorpado e extremamente desiquilibrado.

Ele remete a frutas vermelhas bem maduras com pimenta exacerbada!  Queima a língua!

Pouco doce, surgem notas vínicas discretas e de madeira tostada, frutas secas e um mentolado picante. Leve amargor.

O retrogosto é quente!  Longo e adstringente! 

Chocolate amargo e apimentado, com um surpreendente enfumaçado (barris queimados ou, no mínimo, desinfetados com fogo).  Sem turfa.

O Glenfarclas 105 é de fato uma bomba!  Mas não de Jerez.  Uma bomba de desequilíbrio!

Não gostamos de diluir em água para degustar.  É opcional.  Gostamos de degustar a proposta oferecida pela destilaria.

É um whisky bom para quem aprecia um whisky xucro. Diferente.  Ruim, para quem busca harmonia de sensações num tradicional destilado escocês.

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