– Whisky Canadense – Centeio como personagem principal.

O caráter do whisky canadense é resumido em uma única palavra: Mistura!

Escoceses imigraram em massa para o Canadá no final do séc. XVI e início do séc. XVII, mas sua influência ficou apenas na grafia do nome do destilado (Whisky). O Canadá adotou estilo próprio para produzir whisky.

Acredita-se que a destilação de grãos no Canadá tenha tido início, na costa Leste, próximo à Ontário, no ano de 1760, ainda sob domínio Britânico, destilando a farinha de grãos produzida nos moinhos dessa região, excedentes, para evitar que se estragassem, principalmente o Trigo.

Com as Guerras Napoleônicas (1803 – 1815), e a proibição do fornecimento de vinhos e destilados da Europa continental até a Grã-Bretanha, a destilação expandiu-se para o Oeste Canadense, a indústria cresceu. Irlanda e principalmente a Escócia, com seus whiskies (ainda proibidos), não produziam o bastante para suprir o mercado da toda poderosa Inglaterra.

Devido ao comércio de açúcar, da Inglaterra com a América, sendo o Canadá escala no trajeto de navios, o “Rum” desenvolveu-se de forma mais eficaz, mas o whisky canadense aproveitou também o mercado favorável.

Com a insana “Lei seca americana” (1920 a 1933), durante o qual a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas para consumo foram banidas dos Estados Unidos, a indústria do whisky canadense viveu seu melhor momento! Sim, o contrabando!

Americanos loucos!

A maioria do whisky que chegava nos Estados Unidos era Canadense, atravessando a fronteira, principalmente pelos rios e lagos da imensa fronteira.

Cerca de 200 destilarias de whisky funcionavam no Canadá nessa época de ouro.

Com o fim da Lei Seca, com o crescimento do whiskie americano, a indústria do whisky canadense entrou em declínio com o fechamento de muitas destilarias e as fusões de outras tantas.

Mas isso não quer dizer que o que sobrou não tenha qualidade.

Por muitas vezes subestimado, com a própria indústria canadense de whisky não investindo em propaganda pelo resto do mundo, para muitas pessoas, o whisky canadense ainda é terreno a ser explorado.

Poucas destilarias usam destiladores do tipo “Pot Still” e menos ainda produzem whisky de malte de cevada. A grande maioria usa destiladores tipo coluna.

Existe ainda o fato de que praticamente todas as destilarias usam destiladores de coluna modificados, para, na opinião dos fabricantes, dar complexidade ao destilado.

Exemplo disso é um dos destiladores da Gimli (que produz o famoso “Crown Royal”), uma mistura de destilador de coluna com destilador “Pot Still”. Foto abaixo:

O whisky canadense, geralmente é a mistura de destilados de vários cereais (no mínimo dois), que logo depois serão casados, antes ou após o mínimo de três anos de envelhecimento em madeira. Um mesmo Blending canadense pode conter mais de cinquenta whiskies diferentes da mesma destilaria (!!!).

Geralmente fazem whiskies bem diferentes, um mais leve e suave, de milho, cevada, trigo ou centeio, sempre nos destiladores de coluna. Formam o whisky de base, ou neutro. Em outra destilação, usam centeio e/ou CENTEIO MALTADO, nos destiladores incomuns. Esse é o whisky que dará o caráter ao destilado. Cada destilaria faz suas próprias modificações nos alambiques, de acordo com o que pretendem.

O centeio é a base de sabor do whisky canadense. O centeio maltado, com as mudanças físico/químicas no grão, ativa enzimas que facilitarão a transformação do amido do centeio em açúcar fermentável. Novos sabores!

O centeio maltado faz parte do caráter do whisky canadense.

Do mesmo modo que o whisky Escocês, o whisky Canadense tem que envelhecer em carvalho, dentro do país, por no mínimo três anos e um dia e não pode ser usado tonéis com capacidade superior a 700 litros. Não importa se são barris novos, usados, ou carbonizados. É permitido corante caramelo e o teor alcoólico mínimo para engarrafamento também é de 40% ABV.

Agora a parte mais surpreendente sobre o assunto “whisky canadense”: Ao contrário da Escócia, por exemplo, que compra barris que antes contiveram outras bebidas, como vinho Jerez, Vinho do Porto, Bourbon, etc, para envelhecer seu whisky agregando sabor e riqueza; talvez por questões econômicas, sim, por que não? A lei canadense permite que seja adicionada, até o limite de 9,09%, ou 1/11 do volume de whisky da mistura, quaisquer outras bebidas alcoólicas (até whiskies de outros países), além de frutas e ervas. Sim! É possível acrescentar sabor ao whisky canadense! Café, lúpulo, canela, baunilha, bordo… A imaginação é o limite! MAS, desde que o whisky continue com gosto de whisky!! Essa parte é bem subjetiva.

Whiskies canadenses são complexos em sua essência, mas leves ao paladar. O apimentado (de pimenta do reino), frutado e especiarias (como a canela), características próprias dos destilados de centeio, somados às nuances do cereal usado no destilado base (que não é insosso), fazem dessa bebida uma opção interessante, que o bom e curioso bebedor de whisky deve, em algum momento, experimentar.

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