Já vimos que os primeiros documentos oficiais sobre a destilação na Escócia encontrados, remontam ao século XV, no Royal Exchequer Rolls (Registro do Tesouro Público), no ano de 1494. Era uma encomenda ao frade John Cor, que vivia numa abadia no Condado de Fife. O documento era uma encomenda de cevada maltada para a produção de “água da vida” para o rei James IV.
James viajou para o oeste e Islay em 1493 e novamente em 1494 – o primeiro rei escocês a fazê-lo por um século. Em Islay, ele pode ter testemunhado a destilação, ou como convidado de honra, pode ter sido oferecido a ele um pouco do precioso elixir que se produzia na ilha. Homem instruído, James veio a patrocinar as ciências, incluindo pesquisas médicas, das quais a destilação era uma prática fundamental. Nascido da curiosidade de um rei “sóbrio e temperado” em magia e ciência, o aumento da destilação chega ao fim, tanto quanto os registros permitem, com o fim de seu reinado em 1513, na Batalha de Flodden .
Por quase duzentos anos o whisky não se desenvolveu. Não há menção oficial. Sabe-se que comunidades agrícolas em toda a Escócia dedicavam boa parte de suas terras ao plantio de cevada, para produzir cerveja do tipo “Ale”. Na época, não se conhecia o lúpulo (conservante natural), na Escócia e para evitar que a cerveja azedasse, ela era destilada. A produção era pequena, familiar.
Nos séculos XVI e XVII o conhecimento sobre o processo de destilação se generalizou na Escócia. Devido as reformas Protestantes e Anglicana, mosteiros foram dissolvidos. O conhecimento, antes trancafiado dentro dos muros dos mosteiros, se espalhou pelas comunidades locais.
A primeira menção a uma destilaria escocesa para produção comercial aconteceu em 1690. Destilaria “Ferintosh”, na região de Culloden. Mas há estudos que dizem já haver certo comércio de whisky há cinquenta anos antes.
A produção que inicialmente se limitava a comunidades, onde os recursos eram divididos, foi dando lugar a uma produção para obter lucro. A produção aumentou.
Em 1644, o Parlamento escocês criou um ato de tributação e taxou a “aquavitae”, para quem destilasse para vender. Destilação atrai tributação. Começaram a surgir destilarias escondidas. O povo não aceitava os valores dos impostos. Existia um comércio paralelo.
Em 1707 o governo aumentou os impostos. Alinhou-se os impostos da Escócia com a Inglaterra. Aumentaram também as destilarias ilegais. Se destilava até em cavernas, longe dos olhares dos cobradores de impostos.
A guerra com a França no final do século XVII bloqueou o comércio de conhaque e vinho e também contribuiu para incentivar o aumento da indústria do whisky na Escócia.
Na década de 1820, mais da metade do uísque bebido na Escócia era feito sem pagamento de impostos.
Os clãs mais influentes da Escócia viram no problema uma oportunidade. Se os destiladores ganhavam dinheiro com um processo secreto, mal administrado e ineficiente, então, quanto eles poderiam ganhar com um processo legal e eficiente?
A contínua violação da lei levou o duque de Gordon, em cujas extensas terras, a produzir o melhor whisky ilícito da Escócia, a propor na Câmara dos Lordes que o governo deveria tornar lucrativo produzir whisky legalmente.
Em 1823, foi aprovada o “Excise Act”, um ato de tributação sobre Produtos Industrializados, que permitia à pequena escala a destilação de uísque em troca de uma taxa de licença de 10 libras e um pagamento fixo por galão de destilado.
O primeiro grande destilador a se oficializar, com a ajuda de seu senhorio, o duque de Gordon, foi George Smith, da Glenlivet. O imposto fora reduzido. contrabando começou a desaparecer. A Lei abriu os horizontes para o whisky escocês.
Em 1830, o Irlandês, Aeneas Coffey inventou, na Escócia, o destilador tipo Coffey. Uma revolução na indústria do whisky. O destilador tipo Coffey é o dispositivo mais rápido e econômico para preparar um destilado altamente concentrado em uma única operação contínua.
Isso levou à produção de whisky de grãos com sabor mais leve que, quando misturado com os maltes mais intensos, até então produzidos, elevou o whisky escocês a um mercado mais amplo.
Visionários como James Buchanan, Tommy Dewar, George Ballantine, Johnnie Walker e James Chivas (você reconheceu os sobrenomes?!??), criaram misturas entre destilados de grãos dos destiladores tipo Coffey, com whiskies de maltes. Surgia assim, os Blends!
Por ter sabor mais leve, o whisky tipo blend cresceu em popularidade. Marcas foram consagradas. Consolidou-se a indústria de whisky na Escócia. Mas havia ainda um golpe de sorte que colocaria o whisky como a bebida destilada favorita do mundo!
Em meados do séc. XIX, ocorreu uma grande praga de filoxera na Europa, especialmente na França, de que resultou a destruição de muitos vinhedos e levou à ruína a indústria vinícola na Europa. O besouro Phylloxera começou a se deliciar com as videiras, interrompendo efetivamente a produção de vinho e conhaque. Este era o destilado favorito da Europa. Quando a indústria francesa se recuperou, o uísque escocês havia substituído o conhaque como destilado preferido. O whisky agora é, desde o séc. XIX, o destilado mais consumido e querido no mundo!
O whisky tipo “blend”, dominou o mundo. As destilarias da Escócia simplesmente vendiam toda sua produção para “misturadores e engarrafadores”, 99,9% do whisky comercializado na Escócia era blend.
Somente em 1963 alguma coisa mudou.
William Grant & Sons, dono da destilaria Grenfiddich decidiu engarrafar seu whisky numa garrafa característica, triangular e comercializá-la. Ressurgia o “single malt”, malte único de uma destilaria. A Glenfiddich foi imitada por todas as outras destilarias da Escócia e estabeleceu uma liderança que nunca mais perdeu.
Hoje, o whisky do tipo “single malt”, representa cerca de 10% do whisky comercializado. E não para de crescer…
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